Por causa do aumento de casos, chefes de família perderam seus empregos, afetando a vida do grupo familiar
Antes da pandemia, Francieli Fernanda Oliveira, 30, trabalhava como doméstica em uma casa de família, em Montenegro. Por causa do aumento de casos do Covid-19, foi dispensada do emprego e, como chefe do grupo familiar, que inclui
três filhos menores de idade, se viu encurralada. Atualmente, essa é a realidade de muitas famílias no Brasil, o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), indica que 116,8 milhões de pessoas conviveram com insegurança alimentar no ano passado.
Para Francieli, a insegurança maior foi para pagar as contas da casa. “Tá sendo complicado porque tenho que pagar água, luz, gás e desempregada fica difícil”, relata. Como saída, hoje ela vive com o Bolsa Família, Auxílio Emergencial e doações que pega no Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) de Montenegro. Os três filhos de 13, 9 e 4 anos estão tendo acesso ao material escolar, mas é ela quem retira os conteúdos impressos para estudo.
O coordenador da Central Única das Favelas (CUFA) de Montenegro, jornalista e doutor em Sociologia, Rogério Santos, aponta o Covid-19 como, além de uma questão de saúde, um agravador de problemas econômicos, principalmente para quem é autônomo. “Desde o camarada que vendia churrasco até o da lojinha de roupa, todo esse tipo de trabalho foi prejudicado. Isso foi um impacto muito violento nas famílias”, explica. Com a falta de perspectiva de melhora para milhões de pessoas, setores como saúde, educação e moradia são radicalmente afetados.
“Se tu não tem onde morar, vai morar na rua. Mas, se tu não tem o que comer, não há perspectiva de vida, de sobrevivência. Vejo que estamos caminhando à beira de uma convulsão social”.
O doutor ainda aponta a necessidade de políticas públicas para auxiliar estes grupos afetados, para possibilitar que essas pessoas se tornem protagonistas das transformações de suas próprias vidas, não apenas o auxílio, mas outras ações complementares. “Só lembrando que pesquisas nossas detectaram que 96% das pessoas que receberam o auxílio emergencial, usaram o benefício para compra de comida. E no grupo dos 96%, quase 70% comprou comida para parentes e amigos. Então isso evidencia a volta da fome em níveis avassaladores.”
A Prefeitura Municipal de Montenegro criou, recentemente, o "Banco de Alimentos Municipal", que deve ser abastecido com doações da comunidade para auxiliar as famílias de baixa renda. Atualmente, o município faz a distribuição de cestas básicas, estabelecida pela lei 6.369/2017, contemplando famílias com renda per capita de até um quarto de um salário mínimo (R$ 275,00). Entretanto, há muitos casos de pessoas que não estão cadastradas ou que, por pouco, não se enquadram nos critérios. O Banco de Alimentos servirá para contemplar estes grupos.
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